domingo, 31 de março de 2019

Satya é o segundo Yama

Satya é o segundo Yama (código de conduta) do Ashtanga Yoga de Patanjali. A palavra Satya (Verdade) vem de Sat, que significa ser e refere-se à realização da verdade, a tomada de consciência da nossa pura essência, da nossa verdadeira realidade, ou seja, aquilo que é imutável e permanente em nós, que não é possível ser distorcido pela nossa percepção.
O verdadeiro sentido de Satya, no método proposto por Patanjali, está relacionado a não mentir, evitar um comportamento hipócrita, assumir a própria natureza e não colocar máscaras de ajuste às exigências externas.
A Verdade é o fim e não o meio, para o praticante de yoga. Ela está noutro plano, não pode ser alcançada pela mente humana, precisa ser experienciada. Aqueles que falam sobre a Verdade não a conhecem e aqueles que A conhecem não falam. Conhecer a Verdade é, realmente, libertar-se, quebrar os grilhões da ignorância que nos prendem na realidade corpo/mente e alcançá-la dentro de si mesmo. Onde está a Verdade está, também, o conhecimento que é verdadeiro e só na essência Divina se reúnem a Verdade, o Conhecimento e a Felicidade ( Sat-Chit-Ananda ).
Para aquele que procura seguir na senda da auto-realização, observar Satya, meditar em torno de um comportamento coerente com a própria natureza, já é de grande ajuda. O homem precisa descobrir que tudo aquilo que precisa ter já tem, tudo aquilo que precisa ser já é! O grande desafio é livrar-se de todos os condicionamentos e falsas verdades que estruturaram a sua percepção do ser.

O terceiro Anga do Yoga de Patanjali é Asteya

O terceiro Anga do Yoga de Patanjali é Asteya que significa “não-roubar”. Mas esta orientação ético-moral refere-se a muito mais do que não tomar fisicamente algo de outra pessoa. Além do acto físico, a não-apropriação também se refere ao desejo, à ganância da humanidade e ao anseio por necessidades artificiais, características da mente egóica.
Asteya pretende trazer à consciência a necessidade de eliminar a cobiça, a inveja, o desejo de posse, o egoísmo e o apego. Pôr em prática Asteya implica saber extrair contentamento em relação aos acontecimentos da vida, saber desprender-se da necessidade ilusória de ter e sentir que já temos o suficiente e já somos suficientes. Invocar esta ideia, de que temos o suficiente e somos o suficiente, é a chave para querer e desejar menos e, consequentemente, sentirmos-nos muito mais inteiros e felizes.
Quando começamos a libertar o que não precisamos, abrimos espaço para o Universo nos fornecer o que realmente precisamos - seja uma posse física, uma experiência ou simplesmente uma sensação de bem-estar. A verdade é que partir do momento em que deixamos de querer algo, ele acaba por acontecer!

Brahmacharya é o 4º Yama da via do yoga

Brahmacharya é o 4º Yama da via do yoga e refere-se ao poder de preservar e cultivar a energia sexual (Shakti). Brahma significa Infinito Divino, charya significa mover-se, logo, o termo significa “mover-se em direção a ou viver no Infinito Divino”. A nossa consciência expande-se para o infinito e move-se no infinito. Quando Brahmacharya é estabelecido, percebemos que somos mais que um corpo físico, percebemos que somos consciência (Brahman).
O verdadeiro caminho do yoga é uma via ascética, de práticas e rituais que exigem purificação, disciplina e auto-controlo (Tapas) dos impulsos carnais característicos da condição humana, implícitos à própria existência. Quanto mais elevado o estado de consciência, menos interessam os desejos e prazeres do corpo.
O objetivo da castidade é precisamente o controle da luxúria no corpo (pensamento e fala incluídos), pois o orgasmo (Ojas) é pura energia sutil ou nervosa que se dispersa no momento em que os nervos se distendem durante a ejaculação, o que significa o desperdício da energia no corpo físico, em vez do no corpo subtil. A canalização adequada dessas energias sexuais resulta em vitalidade permanente. Nesse contexto, Brahmacharya mostra-nos o poder de transformar a líbido em poder espiritual (Ojas Shakti).
A prática de Brahmacharya está relacionada à moderação ou equilíbrio, tanto na esfera sexual, como no apetite, falar, pensar, etc. O praticante de yoga deve ser moderado em pensamentos, palavras e acções, de forma que haja sensatez em todos os aspectos de sua vida.
Um dos objetivos do yoga é cultivar a harmonia entre os pensamentos, sentimentos e acções em todos os aspectos da vida, incluindo a sexualidade, sendo que esta deve estar associada aos conceitos de pureza e moderação. A filosofia Yoga ensina que, mesmo não tendo atingido o ideal da castidade, “nós mortais” podemos também obter mais energia e vitalidade através da pureza e da moderação sexual.
A prática constante e disciplinada (abhyasa) de Brahmacharya por parte do(a) yogin(i) leva à conquista de dhárana (concentração) e dhyana (meditação).
Como o objetivo do yoga é justamente controlar os factores que causam perturbação e instabilidades da mente (chitta vritthis), a prática desse yama permite o desenvolvimento do(a) yogin(i).

Este é o 5º e último Yama, Aparigraha

Este é o 5º e último Yama, Aparigraha ajuda-nos a reconhecer aquilo que somos e para que propósito existimos: perceção de que as memórias, os relacionamentos ou os bens materiais (objectos do nosso apego) não vêm connosco de vidas anteriores nem vão connosco para vidas futuras. Por isso, libertar dos apegos permite-nos perceber a verdadeira natureza da nossa existência, constatando que não há lugar para o apego no ciclo de renascimentos. Por outro lado, o abandono progressivo da possessividade cria espaço para o aprofundamento do conhecimento do ser – os objetos de posse ”roubam-nos” energia e tempo.
Este Yama ajuda-nos também a reflectir acerca de como devemos evitar obter benefícios sem trabalhar por eles ou aceitar presentes como favores, já que tal indica pobreza de espírito. No outro extremo, a prática de Aparigraha pode conduzir à auto-repressão, como fundamento para a ascese, ou a uma atitude de apego relativo ao desejo de desapego!
“O homem mais rico é aquele que é pobre em desejos”.

Śauca é o primeiro Niyama

A prática de Niyamas começa com Śauca (lê-se saucha), que pode ser traduzido como limpeza/purificação, tanto externa como interna. Este Niyama ensina a agir mentalmente com clareza, cultivando bons pensamentos, bons sentimentos, mantendo o corpo saudável e o coração limpo, livre de ressentimentos e com ampla capacidade de compaixão e perdão.
Śauca é o primeiro Niyama, pois trata do corpo físico antes dos āsanas. Numa prática de yoga física ou de prānāyāma, usamos, criamos e direccionamos a nossa poderosa energia vital. Se praticarmos com uma sensação de agressão em vez de ahimsa (não violência), abnegação em vez de satya (verdade), preguiça em vez de tapas (disciplina ou paixão ardente) e impureza em vez de saucha (limpeza), então é provável que não progridamos positivamente no nosso sadhana (nossa prática).

Niyamas

Niyamas = Base moral do Yoga, ética pessoal. São disciplinares e construtivos, prescrição psicofísica. Estão relacionadas com toda acção mental positiva que as pessoas devem incluir em sua vida, a purificação de si mesmo. Aquilo o que devemos fazer. Yama é a raiz do Yoga. O nyama é o tronco aonde se desenvolve força física e mental para as auto realizações.

Yoga Sutras Saṃtoṣa

A palavra sânscrita Saṃtoṣa é dividida em duas partes: saṃ, significando completamente ou inteiramente, e toṣa, significando aceitação, satisfação e contentamento. O 2º Nyama, que está directamente relacionado com os Yamas Asteya (não apropriação) e Aparigraha (desapego), lembra-nos da importância em manifestar contentamento com tudo o que é recebido, mesmo com o que não é desejado. É importante expressar contentamento, alegria, bom humor e atitude positiva perante a vida, predisposição à felicidade e comprometimento com o auto-elogio.
O contentamento é geralmente considerado uma atitude e um estado de profunda paz interior. É um estado de espírito no qual se aprende a estar feliz com aquilo que se possui ou experimenta no momento. É uma conquista feita pela sabedoria e não algo intelectualizado. Saṃtoṣa está intimamente relacionado com a equanimidade, na medida em que a sua prática permite aceitar quaisquer circunstâncias que se apresentem, incluindo prazer, dor, sucesso ou fracasso.

Tapas

Tapas é o 3º Niyama que significa austeridade, disciplina, esforço sobre si próprio, mas também se refere ao calor, ascese, determinação, força de vontade concentrada, austeridade, resiliência, fogo transformador e força interna. “Tap” vem do verbo queimar em sânscrito e está associada à ideia de luz, calor, fogo ou radiância, símbolos que lembram a importância da motivação nas nossas acções.
O objetivo desse esforço sobre si próprio é atingir um estado de purificação que permita ao indivíduo tomar posse do seu corpo, indo além dos limites impostos pela percepção limitada da realidade, ou seja, é purificar o corpo e mente e submetê-los ao controle da vontade.

"Uma linguagem que não fira, verídica, amigável e benéfica, o estudo regular das escrituras, tal é o tapas da palavra. A serenidade e clareza de espírito, a doçura, o silêncio, o autodomínio, a total purificação do carácter, tal é o tapas consciente."

Tapas é amor próprio e auto-disciplina para queimar todos os desejos que estão no caminho dos sonhos e objectivos (de preferência, concretos e simples, como ex.: comer o suficiente e de forma saudável, deixar de fumar, ser mais compassivo e generoso, praticar Yoga com regularidade, …). Um objectivo nobre ilumina a vida, torna-a pura e divina.

O desafio que Tapas nos coloca é o de sermos uma pessoa melhor, é o esforço sobre si mesmo no caminho do auto-conhecimento. Contudo, exige bom-senso, consciência de Ahimsa (não violência) e implica auto-disciplina, paixão e coragem para que se consigam queimar as impurezas físicas, mentais e emocionais, através do fogo, o elemento da transformação.

Svādhyāya, o 4º Nyama

Svādhyāya, o 4º Nyama, tem origem em Sva, que significa “eu”, e dhyaya, da raiz sânscrita dhyai, “contemplar, pensar sobre, estudar”.
Este Nyama relaciona-se com Satya (2º Yama) e Maya (ilusão) e resulta da necessidade de obter respostas às questões existenciais, respostas não-intelectuais, mas intuitivas, vividas na 1ª pessoa. É o auto-estudo, a busca do ser. Questionar o que percepcionamos como real é fundamental para o auto-conhecimento. O processo de auto-questionamento é o que constitui Svādhyāya.

O 5º e último Niyama, Īśvarapraṇidhāna

O 5º e último Niyama, Īśvarapraṇidhāna, refere-se ao sacrifício divino, isto é, à entrega dos resultados do esforço, dedicação e trabalho a um plano superior. Do sânscrito, Īśvara significa “Senhor” ou “Deus Supremo”, e praṇidhāna significa “rendição” ou “dedicação”.

Kleshas

O Yoga Sutra de Patanjali (2.9) identifica Abhinivesha como um dos cinco kleshas, ​​as “aflições” ou “venenos” que criam estados de descontentamento mental.
Os Kleshas são descritos como as principais causas do sofrimento humano, sendo o MEDO uma das causas da "egolatria", como refere Krisnhamurti, mais especificamente o medo da morte, como o maior de todos os medos.